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a perfeita ordem das coisas
quando não estás
o universo fica desarrumado.
vira-se do avesso.
enviesa-se.
anda da frente para trás
e a gravidade multiplicada
faz-me mais pequena.
quando não estás
há o caos nos meus pés
que se enrolam e me tombam.
e nas minhas mãos também,
que deixam de saber tecer o presente.
na verdade em todo o meu corpo
que desaprende o sorriso
e a arte da paciência.
quando não estás
não há linha do tempo
nem sol.
e a chuva sobe e há nuvens verdes
porque leva as florestas para o céu.
quando não estás
o universo fica em pantanas.
por isso,
vem depressa,
para que o universo se recomponha.
e eu também.
cláudia moreira
Uma destas noites sonhei que poderia viver assim. Com o assim, quero eu dizer viver da escrita. Sim, eu gosto de escrever. Às vezes até gosto muito de escrever. Já houveram dias que me apaixonei por aquilo que escrevi. Outros houveram que não. Mas isso, creio que nem todos os dias o pão saí bonito do forno.
No meu sonho eu escrevia sempre. Escrevia de manhã e à tarde e à noite esempre que me apetecia e e ainda podia dar passeios largos pela praia quando o dia finda e a noite ainda não caiu. Não sei se vendia livros nem ninguém veio pedir-me autógrafos. Não tenho presente a parte pragmática do sonho. Também, pouco importa já que nos sonhos não é preciso comer e a roupa nunca se gasta. Tenho só presente que escrevia e o prazer que tinha com o acto.
Sonhar faz bem e ter conhecido a sensação - os sonhos podem por vezes ser bem reais - de fazer da vida o que se gosta, também. Na verdade, que seria de nós sem os sonhos? Todos os sonhos. Os que temos a dormir mas também os que temos acordados.
Cláudia Moreira
o tempo.
o tempo que voa e a vida também
se veste de outono e fios de prata.
o tempo.
conheço-o de o ver passar
na minha janela.
o tempo.
fecho-lhe a porta que ele teima
em tranpôr para me abraçar.
o tempo.
não existe.
é mera palavra de dicionário.
se existir, lanço-o no céu
como um papagaio de papel.
há-de então perder-se no vento
que despenteia a copa das árvores
e anuncia a tempestade.
o tempo.
não existe em mim,
mas fora de mim.
cláudia moreira
es·cri·ta
1. Arte de escrever.
2. Coisa que se escreveu.
3. Lição de escrever.
4. Forma de letra; caligrafia.
5. Escrituração comercial.
6. [Brasil] Forma habitual ou esperada de algo acontecer. = ROTINA
A Cruz de Esmeraldas de Cristina Torrão
Gosto muito de romances históricos. Gosto muito de História e gosto muito de histórias, portanto nada como juntar as duas coisas: a História em literatura.
Já há muito tempo que andava curiosa com esta autora, por encontrá-la muitas vezes na blogosfera, e gostar da sua simpatia. Tive a sorte de me cruzar com um livro dela na livraria da Estação de S. Bento, que visito sempre que posso, e assim poder trazê-lo comigo.
O livro fala sobre a conquista de Lisboa aos Mouros pelo D. Afonso Henriques e Cruzados. No meio, para embelezar, há uma bela moura que conquista um cruzado alemão e que no final desta história ambos acabam a viver em Trás-os-montes no terreno que o rei lhes deu para que colonizassem essa parte do país e em recompensa do bom serviço prestado ao país. Mais uma vez não me desiludi pois, embora pequeno, percebi claramente o processo de recrutamento dos soldados, como se fez o cerco, o tempo que demorou e muitos outros dados sobre o assunto que desconhecia.
Recomendo a sua leitura.
Sinopse da Wook
Momentos depois, derrotado, deixou cair os ombros. Depois, ele próprio também se deixou cair de joelhos no chão pejado de papéis. Fechou as mãos na cabeça e de seguida, muito devagar, deitou-se em posição fetal. Encostou a cara coberta por uma barba de muitos dias ao chão frio. Um dos olhos fechados pela pressão do chão, o outro a ver de lado a destruição que causara na sala, os papéis rasgados, os livros abertos e estragados, os retratos dentro das molduras partidas. Deixou-se ficar ali tanto tempo que acabou por adormecer. Também poderia ser morrer.
Quando acordou, horas depois, recordou por breves instantes o que fizera e doeu-lhe na alma, onde quer que ela estivesse, dentro do seu corpo, todo ele também dorido e massacrado por horas absurdas de inércia, má alimentação e demasiados cigarros.
Depois levantou-se e abriu a janela. Lá fora o dia principiava. Havia ainda o cinzento mas o cheiro verde da árvore em frente trazia para dentro da sala promessas de sol. Apeteceu-lhe um café. Ainda teria algures moedas para um café. E para um jornal. Veria os classificado. Depois daria uma volta pela praça na esperança de poder trocar dois dedos de conversa com os velhos de olhos pequeninos às vezes tristes outras mais alegres e peles enrugadas por vidas intensas e cheias de histórias e que, sentados nos bancos metálicos, esboroam tranquilamente miolo de pão para dar aos pombos.